sábado, 4 de maio de 2013

Perseguição Policial Mirim

Todos os finais de semana tá acontecendo um evento com crianças aqui na delegacia.
É um negócio meio educativo, no qual as crianças aprendem a respeitar a lei e experimentam, por meio de brincadeiras, como que é a vida dos policiais.
O chefe falou que eu não podia mostrar pras crianças como que usa a arma.
Daí eu resolvi mostrar como que usa a viatura.
Eu tenho ciumes da minha viatura.
Daí eu botei as crianças (umas 15) dentro da viatura do Gonzalez.
Eu mostrei todos os instrumentos, o botão que liga o giroflex, o radinho pra falar com o chefe, enfim, todo o essencial pra fazer uma prisão.
Na hora que eu tava ensinando as crianças a dirigir (por causa do tamanho delas, era uma criança nos pedais e outra no volante), o radinho da viatura começou a chamar pra atender um roubo no centro de Curitiba.
Daí eu falei: "OK, criançada! Agora é pra valer. Vamos dirigindo a viatura até o local do crime. Ativar!"
As crianças, demonstrando extrema eficácia policial, saíram dirigindo em velocidade rápida.
Enquanto duas delas dirigiam a viatura, outra ligou o giroflex e outra começou a se comunicar com a central pelo radinho.
Eu só fiquei sentado no banco de trás anotando tudo no meu caderninho. Nota 10 pra todo mundo.
Como eu não podia ensinar pros meus estagiários como usa o revólver, eu dei instruções que resultariam na mesma eficácia pra prender os bandidos:
1) Desligar o giroflex, pra não chamar a atenção.
2) Procurar os bandidos de forma sorrateira.
3) Atropelar os bandidos.
4) Botar as algemas.
5) Voltar pra delegacia.
6) Pedir um aumento pro chefe.
7) Dar entrevista pra rede globo.

O esquema de desligar o giroflex não deu certo.
Na hora que os bandidos viram a viatura, eles sairam correndo.
As crianças pisaram fundo e foram voando atrás dos bandidos.
Daí os bandidos espertalhões resolveram fugir pelo calçadão da rua XIII.
A viatura não anda na calçada.
Até anda, só que com menos eficácia.
Daí eu instruí as crianças a estacionar e continuar a perseguição a pé.
Como tinha bastante gente na rua XIII, os bandidos tiveram bastante dificuldade pra desviar das pessoas com as mercadorias roubadas.
As crianças, como são beeeeem menores, conseguiram correr bem mais rápido.
Eu fiquei olhando de longe, com o meu binóculo, pra evitar a fadiga.
Daí aconteceu um negócio bem gozado. Outras crianças, do grupo de uma escolinha que passeava pela rua XIII, se juntaram às crianças policiais. Daí virou meio que uma avalanche de crianças malucas correndo.
A cada 15 metros, mais uma criança se soltava da mãe e saia correndo no meio do grupo.
Eu conseguia ver a cara de desespero dos bandidos pelo meu binóculo.
Daí eu resolvi dar uma ajudinha.
Eu entrei na viatura e fui dirigindo ao redor da quadra até o final da rua XIII, pra surpreender os meliantes.
Nesse momento eu vi que a polícia de Curitiba já tinha cercado todas as ruas laterais, pra evitar a fuga dos bandidos.
Daí eu estacionei umas quadras pra frente e fui correndo até o lugar que os bandidos iam chegar, pra dar um pulo na frente deles e dizer: "Rá!"
No caminho, eu comprei um daqueles dentes de vampiro de plástico e coloquei na minha boca, pra dar um susto mais elaborado.
Daí eu fiquei parado na esquina por uns 15 segundos e resolvi pular no meio da rua.
Não tinha ninguém.
Aparentemente a polícia já tinha capturado os meliantes antes deles chegarem lá.
Daí eu fiquei parado no meio do calçadão.
Nessa hora o chefe apareceu e começou a dar uma mijada, porque não era pra eu envolver as crianças em uma perseguição policial. Aquele mesmo blá blá blá de sempre.
Só que eu não respondi, porque senão eu ia ter que abrir a boca e ele ia ver os meus dentes de vampiro.
Mas, como sempre, no meio da mijada eu comecei a achar tudo gozado e tive que rir.
Quando o chefe viu que eu tava com os dentes, ele quase riu.
Só que o chefe não goza, então ele ficou sério.
Daí as crianças vieram correndo na minha direção e me viram com os dentes. Daí elas fugiram correndo.
Foi tudo meio que um mal entendido generalizado.
Eu levei mais umas mijadas do chefe na delegacia. Levei umas mijadas das mães das crianças também.
Mas tudo terminou bem. Depois eu descobri que as crianças postaram fotos delas mesmas com dentes de vampiro no Feisbuk, em minha homenagem.
Eu fiquei comovido.
Só que eu não tenho Feisbuk.
Fin.

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